Por que muitas amizades santas e verdadeiras acabam?
“Melhor é a correção manifesta que a amizade fingida. As feridas do amigo são provas de lealdade, mas os beijos do que odeia são abundantes” (Provérbios 27, 5-6)
Eu
queria falar sobre a amizade. Fui procurar algumas passagens na
bíblia que tratam desse tema. Poderia escolher a tão famosa dos
tesouros e abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim (la la la la).
Mas, essa me chamou a atenção, de forma particular. É
necessariamente a amizade da sinceridade, aquela mais madura. Ocorre
que, hoje em dia, com tantos modismos e modinhas é tão difícil
saber o que é ser amigo, e como ser um amigo, e como se relacionar
na amizade, que quase se precisa fazer um artigo, de fato,
científico-filosófico-teológico para alcançar esse fim. Valha
minha Nossinhóra!
A AMIZADE NASCE DE
UM ENCONTRO
Pois
bem. A amizade nasce de um encontro. Quando Davi se encontrou com o
top profeta Natan (risos), ali se iniciara uma grande, bela e
santa amizade. Mas já começo lhe dizendo que foi uma amizade,
realmente, de Deus. Davi precisava de um amigo assim. Esse é o
primeiro ponto. Deus nos manda os amigos que precisamos para a nossa
santificação e vice-versa. Você me pergunta: “Sério? Por que
Natan?”. Porque Davi era um cara muito bom, mas deixou-se levar por
uma paixão. Na hora certa, Natan chegou e disse: “Olha só, cara.
Você pecou, seu miserávi”. Davi ficou arrasadíssimo com aquela
notícia. Mas esse foi meio de arrependimento e salvação para ele.
Imagine só se Natan tivesse dito: “Davi, meu brother. Eu sei que
sua atitude não foi tão boa. Mas, a menina é uma gatinha mesmo.
Deus vai te perdoar, cara. Vai nessa. Tô com você,
independentemente da sua escolha”. Vish! Quero nem pensar o que
teria acontecido. Na verdade, quero. Davi, possivelmente, teria se
arrependido do mesmo jeito, porque ele era um cara escolhido por
Deus. Mas, talvez demorasse um pouco mais pra isso. E aí é quando
precisamos dos amigos. Pra não errarmos durante muito tempo. Eu não
sei a expressão que Natan utilizara para exortar Davi do seu erro.
Mas esse Natan aqui diria: “Meu irmããããããoo, vá simbora se
confessar! Cuide, bata na porta do padre, arme uma barraca lá, só
saia quando ele lhe atender”.
A AMIZADE APAIXONADA
Então,
já houve o encontro. Você já tem o seu amigo e o ama com toda
paixão do seu coração. Isso mesmo. Fiz questão de usar a palavra
paixão, porque todos nós sabemos que os primeiros tempos da amizade
são apaixonantes, tão quanto os primeiros tempos do namoro. Os
amigos querem estar o tempo todo conversando, jogando videogame, no
whats app falando besteira, criando mais assuntos, etc. Mas, acontece
que podemos cair num grande erro. Tentar levar a amizade assim pelo
resto da vida.
Na
medida que o tempo passa, vamos percebendo duas coisas. Que os amigos
já não conversam com tanta frequência ou que, um ainda no estado
de apaixonamento busca relacionar-se como sempre, enquanto o outro
já, não mais. É aí onde nasce o problema.
A PÁSCOA DA AMIZADE
Por
que muitas amizades santas e verdadeiras acabam? Por causa da
“páscoa”. O que significa a palavra páscoa? Páscoa é uma
palavra hebraica Pessach,
que significa passagem. No cristianismo ela representa a passagem de
Cristo da morte para a vida. A páscoa é dolorosa, porque eu imagino
– agora sendo um pouco mais ousado, porque não sou teólogo –
que a páscoa, além de ser uma passagem da morte para a vida, pode
ser também uma passagem da vida, para a morte e
novamente para a vida. Vamos
entender. Para que haja morte, é preciso que haja uma vida antes. E
logo em seguida uma nova vida. Sendo assim, trazendo para o nosso
tema, a páscoa da amizade seria uma passagem da amizade superficial,
que passa pela morte e torna-se uma amizade santa, cheia de sentido e
que salva.
O
estágio inicial da amizade, como já disse, é esse superficial, dos
sentimentos. Em que a maioria das ações são movidas pelos
sentimentos e pelas emoções. Nesse estágio, os dois são como
vasos
de vidro. Doam-se por inteiro, mas ainda são muito frágeis aos
acontecimentos, podendo ser facilmente feridos e...
quebrados! A partir daí a amizade já pode ser desfeita. (Tô ligado
que até agora já passou um filme na sua mente, hehe).
Depois
do momento dos abraços e beijinhos e carinhos vem a grande prova.
Começa a bendita páscoa da amizade. Ela seria a morte, ou pra não
assustar, um período de provas. Meus irmãos, quando o diabo percebe
que uma amizade tem tudo pra ser de Deus, ele se utiliza de tudo para
tentar destruí-la, e na hora das provações, começa a pôr o
dedinho sujo para tentar contra os amigos. Daí surgem as fofocas, as
intrigas, os “disse-me-disses”, etc. É nessa hora que vocês
precisam perceber, que há uma provação – a qual não pode ser
confundida com a tentação, mas podem haver tentações e provações.
Vou explicar.
AS TENTAÇÕES E AS
PROVAÇÕES NA AMIZADE
Tentação
é uma ação diabólica no intuito de fazer alguém pecar. Provação
é uma ação divina, que tem por fim a purificação da alma e
consequentemente a sua santificação. Há uma coisa muito boa nessa
história. Seja na provação, seja na tentação, você pode sair
delas muito cheio de unção. Uh! Rimou!
Vamos
tomar como exemplo o nosso querido Jó. Jó era um cara muito temente
a Deus e muito rico. Pense num cara rico! Então, o demônio chegou
até Deus e disse: “Deus,
sabe porque Jó é um cara temente a você? Porque ele tem tudo que
ele quer. Agora deixe eu tirar tudo dele pra você ver se ele num vai
pecar”. Deus autorizou. Veja. Deus não queria que Jó sofresse,
porque o autor do sofrimento é o diabo. Na minha terra, capiroto,
cão chupando manga, encardido. A intenção do inimigo de Deus foi
tentar Jó, tirando tudo o que ele tinha para que ele pecasse contra
Deus. Mas Jó foi fiel até o fim. Foi tão fiel que para ele aquilo
já não era mais uma tentação. Aquela tentação se
transformou em provação,
pois era cheia de sentido. Jó sofria, mas não sofria por sofrer.
Sofria porque fazia a vontade de Deus, e por isso provou a Deus, a
ele mesmo e a todo o mundo que nada era maior que a sua Fé em Deus,
a não ser o próprio Deus. Pronto. Jó transformou a tentação em
provação. Saiu dela, muito mais cheio da graça de Deus.
Na
amizade acontece a mesma coisa. Quando tudo tá muito insuportável
você tem duas escolhas a fazer: abandonar
o seu amigo porque “ele é um falso, idiota, caba de pêia!”. Ou
fazer como Jó, suportando a sua fraqueza – porque você também é
fraco e um “caba de pêia”! -, perdoando o seu amigo, rezando por
ele e com ele, dialogando sem julgá-lo, sem lhe apontar os erros.
Amando-o. E falando em abandono, também quero falar sobre isso.
O AMIGO DESCARTÁVEL
Todo
ser humano tem um desejo natural de busca pelo eterno, pleno,
perfeito, imutável.
Acabamos por buscar essas qualidades nos nossos amigos. Porém, só
Deus é assim. Só ele pode suprir todos os desejos do nosso coração.
Não existe ninguém no mundo que seja capaz de preencher todos os
nossos vazios, senão, Deus.
Ainda
por cima, quando passamos a conhecer mais a fundo as pessoas,
conhecemos também os seus defeitos, limites, necessidades e
fraquezas. Aí é onde mora o perigo. Primeiro vem a decepção.
Segundo, o afastamento. Tratamos os nossos amigos -
na verdade, não só os amigos, mas todas as pessoas -
como se fossem descartáveis. Que cristãos estamos
sendo? Amamos pelas
qualidades? Amamos os amáveis? Ôxe! O que estamos fazendo então?
Amar quem merece ser amado é muito bom, não é? Precisamos amar
aqueles que, quando se abrem a nós, se abrem com suas feridas e
fraquezas e tudo.
Lembre-se. Você também tem as suas. Para mim, isso basta.
ENFIM, AMIZADE
Depois
de tudo isso, vem então a amizade fortalecida. Sim, fortalecida
pelas brigas, pelas provações, pelas tentações. Purificada pelo
fogo. Madura. Aquela que já não dá ouvidos às conversinhas e nem
dá asas ao pensamento influenciado pelo tentador. A amizade que
entende quando o amigo não liga, porque está muito ocupado ou
simplesmente porque não está com vontade de ligar. Entende também
quando o amigo está online e não fala com você. Entende um bocado
de coisa. Entende os erros, as fraquezas. Mas também nem sempre
passa a mão na cabeça pra dizer “ô o bixinho. O pobi”. É uma
amizade que está presente, mesmo estando longe, e que deixa livre o
amigo para ter outros amigos. Deixa livre para deixar Deus ser o
centro. Eu ia acabar por aqui. Mas, me lembrei da coisa mais
importante!
DEIXE DEUS SER O
CENTRO
Conheci
uma pessoa do Rio Grande do
Norte. Um dia ela me disse sem ne-nhu-ma caridade: “Você não é o
centro da minha vida”. Agradeço a Deus por essas palavras
dolorosas,
que me fizeram compreender que numa amizade verdadeira, a vontade dos
amigos deve estar submetida à vontade de Deus. Deus é o centro, e
se Ele, verdadeiramente, for o centro, tudo dará certo. Como diz o
pessoal do Shalom: “Vai dar certo!”.
Grande
abraço!
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